Brasil 19/02/2022 11:35

Cooperação com a Rússia amplia influência do Brasil no tabuleiro global e no BRICS, diz pesquisadora

A viagem de Bolsonaro à Rússia de Putin tem uma avaliação diferente sobre os reais motivos. Do ponto de vista russo.

A importância da cooperação entre Brasil e Rússia voltou a ser discutida após o recente encontro entre Putin e Bolsonaro em Moscou.
A Sputnik Brasil ouviu uma especialista para discutir o assunto, que avaliou como essa aproximação pode impactar a influência brasileira no cenário internacional.
Na quarta-feira (16), o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL) foi recebido em Moscou pelo presidente russo, Vladimir Putin, para discutir as relações entre os países. A visita também incluiu um encontro entre os chanceleres e ministros da Defesa de ambos os países, além de consultas comerciais e tecnológicas.
Isabela Gama, especialista em BRICS e pesquisadora ligada à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), acredita que o possível aumento da cooperação entre Brasil e Rússia está ligado à aproximação brasileira com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e à perda de influência na América do Sul.
“A visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia envolve também a questão do Brasil ter sido recentemente convidado formalmente a aderir à OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. Por conta desse convite formal, o Brasil precisa cumprir muitas metas para atingir os 251 instrumentos para ter uma adesão de fato à OCDE. Dessa forma, o Brasil precisa ampliar, por exemplo, o multilateralismo”, explica a pesquisadora em entrevista à Sputnik Brasil.
Conforme dados oficiais do Ministério da Economia brasileiro, em 2021 o volume de trocas comerciais entre Brasil e Rússia chegou ao maior patamar desde 2009, totalizando quase US$ 7,3 bilhões (cerca de R$ 37,5 bilhões).
A maior parte do crescimento desse volume está nas importações, que correspondem a quase US$ 5,7 bilhões (cerca de R$ 29,3 bilhões) do total – mais que o dobro do ano anterior e maior valor pelo menos desde 1997. As exportações, por outro lado, tiveram um dos piores resultados desde 2004, com cerca de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,2 bilhões).
Reunião do Fórum dos Conselhos de Empresários da Rússia e do Brasil em Moscou, 15 de fevereiro de 2022. - Sputnik Brasil, 1920, 18.02.2022
Reunião do Fórum dos Conselhos de Empresários da Rússia e do Brasil em Moscou, 15 de fevereiro de 2022.
Gama avalia que até o recente encontro Brasil-Rússia em Moscou, a política externa do governo Bolsonaro vinha operando um multilateralismo “bastante incerto”, principalmente no âmbito do BRICS e das relações sul-sul. Para ela, a mudança de rumos pode ser uma nova tendência, tendo em vista a impossibilidade de “alinhamento total” do atual governo brasileiro com os Estados Unidos de Joe Biden.
A pesquisadora aponta ainda que a recente movimentação brasileira pode estar relacionada ao recente pedido da Argentina de adesão ao BRICS. No início deste mês, o presidente argentino, Alberto Fernández, fez o pedido diretamente à China e à Rússiasem consultar o Brasil. Fernández é considerado um desafeto do governo Bolsonaro.
“Existe a possibilidade de isso ser uma demonstração do Brasil de que nós estamos presentes no BRICS para que, caso outros países, além da Argentina, estejam interessados a se unirem ao BRICS, venham ao Brasil fazer esse tipo de requerimento. É uma forma também de o Brasil demonstrar dentro do BRICS a sua presença e o seu multilateralismo, que ficou bastante prejudicado nos últimos anos”, aponta a especialista.
Gama ressalta ainda que a tentativa de restabelecer o Brasil como um país emergente carece de investimentos em novas áreas, para além do agronegócio e da exportação de matérias-primas. Nesse sentido, a aproximação com a Rússia pode ser um trunfo.

“Precisamos estar presentes também em investimentos nas áreas tecnológicas, que são talvez as que mais crescem ultimamente. E acredito que essa nova tentativa de reaproximação com a Rússia tenha também um caráter complementar em algum momento de relações técnico-militares, porque a presença russa no subcontinente sul-americano em termos militares é crescente”, conclui.

Deu em Sputnik Brasil

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista