Pandemia 03/02/2022 18:45

87% dos médicos dizem ter pegado Covid nos últimos dois meses

A alta taxa de contágio da Covid-19 faz com que os serviços de saúde de todo o país registrem um grande número de afastamentos

Quase nove em cada dez médicos relatam terem sido infectados pela Covid nos últimos dois meses ou conhecem outros colegas no ambiente de trabalho que o foram.

Essa alta taxa de contágio faz com que os serviços de saúde de todo o país registrem um grande número de afastamentos. A falta de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde é apontada como principal deficiência assistencial na atual fase da pandemia (45%). Há um ano, essa era uma queixa de 32,5% dos médicos.

Os dados são de um levantamento da AMB (Associação Médica Brasileira) com 3.517 médicos de todo o país, entre os dias 21 e 31 de janeiro, divulgado nesta quinta (3). A maioria (52,5%) está na linha de frente de serviços públicos e privados que atendem pacientes com Covid.

Segundo César Eduardo Fernandes, presidente da AMB, um outro lado trágico dessa contaminação disseminada entre os profissionais é que os médicos remanescentes acabam trabalhando mais para repor os colegas afastados, sob muito esgotamento físico e mental.

Grande parte dos médicos se declara esgotada (51,1%) e apreensiva (51,6%) com o atual momento. A percepção é que os colegas de trabalho também estão estressados (62,4%) e sobrecarregados (64,2%).

A pesquisa não mediu a percepção dos profissionais sobre o aumento de agressões verbais e físicas no ambiente de trabalho, mas Fernandes diz que esse é fato que tem preocupado a entidade.

“Eu compreendo a insatisfação da população, que espera horas por atendimento, a situação é dramática mesmo, mas a gente não pode aceitar agressões aos profissionais da saúde. Eles estão tão vitimados quanto. O médico está cansado, a recepcionista do hospital está cansada, o maqueiro está cansado”, diz Fernandes.

Outro estudo ainda não publicado do médico Adriano Massuda, professor e pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas), mostra que durante a pandemia houve aumento da carga horária nos serviços de saúde, mas sem ter um correspondente no número de profissionais, especialmente médicos.

“Em um sistema de saúde que já estava muito sucateado, sobrecarregado, essa terceira onda da Covid vem como mais um choque nesse corpo fragilizado. É esperado que isso gere todo esse tensionamento que estamos vendo”, diz Massuda.

Outro fato que tem atrapalhado o enfrentamento da Covid na opinião de 86% dos médicos entrevistados pela AMB é a circulação de fake news e de informações sem comprovação técnica.

Para eles, essa desinformação dificulta, por exemplo, que as pessoas aceitem as decisões dos profissionais de saúde (55%) e ou as fazem pressioná-los por tratamentos sem comprovação científica (37,7%).

“Os números me desapontaram um pouco. Eu esperava que todos os médicos considerassem as fake news desastrosas, criminosas, mas há um percentual de médicos que acha que não”, afirma César Fernandes.

Massuda também atribui aos médicos aliados ao governo Bolsonaro uma parcela da responsabilidade por essa onda de desinformação.

“Dois anos de enfrentamento da pandemia, tantas pessoas morrendo, e eles defendendo a eficácia da hidroxicloroquina, agora questionando a vacina para crianças sem argumentação científica nenhuma.”

Deu em Jornal de Brasilia

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista