Vacina 29/06/2021 18:00

Covid: Vacinação por comorbidade no Brasil ‘foi maluquice’ e encorajou fraudes, diz epidemiologista Paulo Lotufo

Os brasileiros que tiveram acesso à vacinação contra a covid-19 são principalmente os mais velhos, mais ricos e mais brancos, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor titular de Clínica Médica da Universidade de São Paulo (USP).

Os brasileiros que tiveram acesso à vacinação contra a covid-19 são principalmente os mais velhos, mais ricos e mais brancos, diz o epidemiologista Paulo Lotufo, professor titular de Clínica Médica da Universidade de São Paulo (USP).

Esse retrato é resultado dos critérios para imunização utilizados até agora, afirma ele.

Em entrevista à BBC News Brasil, Lotufo critica pontos como a lista de comorbidades (e as exigências para comprová-las) e diz que a forma como essa imunização ocorreu — “uma maluquice” — gerou “corrupção e fraude”.
“O grande erro de tudo sempre foi a história de que não houve coordenação federal”, critica.

O Ministério da Saúde determinou, inicialmente, grupos prioritários para a vacinação. O detalhamento das regras, no entanto, ficou sob responsabilidade dos governos estaduais e municipais. É por isso que as regras variam de cidade para cidade e vemos municípios próximos em fases diferentes da vacinação.

“Agora eu acho que os prefeitos perceberam que, se quiserem ser rápidos, têm que usar o critério de idade”, diz Lotufo.

Ao dizer que quem está vacinada hoje no Brasil “é a população mais velha, a população mais rica e a população mais branca”, Lotufo destaca que o problema é que isso “não bate” com as principais vítimas da doença.

O epidemiologista usa o exemplo da cidade de São Paulo e cita dados do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), para argumentar que “os locais de maior risco têm menos gente vacinada”.

Levantamento do LabCidade mostra que os territórios com maior incidência de covid-19 são áreas de São Paulo onde mora a maior parte da população negra da cidade, porém os territórios onde mais se vacinou até agora são onde está a população branca de renda mais alta.

A crítica dos pesquisadores do LabCidade é que o poder público, mesmo reconhecendo as diferenças de impactos da pandemia nas regiões da cidade, não adotou “nenhuma política de prevenção territorializada para prevenir o contágio dos moradores desses bairros mais afetados”.

Nesse cenário, Lotufo menciona que as vacinas de uma só dose — atualmente a Janssen — deveriam ser aplicadas nessas regiões. “Eu pegaria as doses únicas, iria nos bairros mais pobres e vacinaria todo mundo

Deu na BBC

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista