Pandemia 22/03/2021 06:22
Governo gaúcho vai reabrir comércio mesmo com hospitais superlotados e fila por leito de UTI
Governador Eduardo Leite autoriza flexibilização do isolamento social diante da queda do ritmo de infecções, mas desaceleração não se reflete nos hospitais. Há pacientes atendidos nos corredores, enquanto fila por cama de UTI quadruplica e faltam insumos para socorrer pacientes com covid-19
As cidades do Rio Grande do Sul podem adotar regras mais brandas de contenção da pandemia do novo coronavírus a partir de segunda-feira, 22.
Depois de três semanas sob restrição, o comércio está autorizado a reabrir as portas de segunda a sexta.
Esse clima de volta gradual à normalidade, entretanto, não condiz em nada com o cenário de colapso vivenciado dentro dos hospitais, pronto atendimentos e até de unidades básicas de saúde no Estado ―o sexto mais populoso do Brasil, com 11,4 milhões de habitantes―, onde a demanda de pacientes com covid-19 levou ao fechamento de serviços de emergência e as taxas de superlotação já ultrapassaram 600% em alguns casos.
“Isso é trágico, estamos no pior momento da pandemia, mas pode piorar muito. Ou tomamos atitudes drásticas e rápidas, ou teremos que lidar com uma tragédia muito maior”, alerta a epidemiologista Lucia Pelanda, reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, capital do Estado.
O governador Eduardo Leite (PSDB) justifica a decisão de autorizar a reabertura do comércio ―para os prefeitos que assim desejarem, já que flexibilizar não será uma imposição― com o número de infecções, que diminui gradualmente. Segundo o Governo, em fevereiro, a taxa de transmissão do vírus era de 2,35 (a média de quantas pessoas um paciente com covid-19 pode infectar).
Agora estaria em 1,4.
O número de novos casos registrados no painel público covid-19 também tem tendência de queda. Mas profissionais da saúde do Rio Grande do Sul afirmam que a desaceleração não é sentida ainda dentro dos hospitais.
O RS é o quarto Estado em número de infecções no país, com 771.000 casos e 16.117 mortes por covid-19 confirmadas até a quinta-feira.
Nas ruas da capital gaúcha, carreatas e atos públicos se intensificaram nesta última semana. O Palácio Piratini, sede do Governo estadual em Porto Alegre, tem vivido sob pressão constante de militantes vestidos de verde e amarelo que exigem a retomada das atividades.
Um pedido de impeachment foi protocolado na Assembleia Legislativa contra o governador, que é um dos pré-candidatos do PSDB à presidência da República.
Assim também cedeu o governador do Amazonas, Wilson Lima, quando teve protestos em dezembro para reabrir o comércio. Semanas depois, Manaus entrava em colapso absoluto.
“Não consigo observar essa redução no total de casos. Na prática, estamos superlotados. Tem doentes internados em consultórios, nas salas de medicação, nos corredores. É temerário reabrir o comércio com esse quadro”, desabafa o coordenador médico da UPA Bom Jesus, em Porto Alegre, Alexandre Bublitz.
A unidade em que ele atende chegou a exceder sua capacidade máxima em 628% nesta semana. Na última quinta-feira, 18, a lotação era de 528%.
A sobrecarga se dá pela falta de leitos de UTI em hospitais, um gargalo que mantém pacientes aguardando de forma improvisada a liberação de uma vaga para atendimento crítico.
Naquele dia eram 305 pessoas nesta situação no Estado, um número quatro vezes maior do que o registrado em 5 de março, quando pela primeira vez o Rio Grande do Sul viu a demanda superar a capacidade instalada de 3.195 leitos de UTI.
Desde então, o sistema opera permanentemente com 100% de lotação, tanto na rede pública como na rede privada. Por isso, pacientes que deveriam permanecer no máximo 24 horas na UPA Bom Jesus agora precisam esperar três dias para serem transferidos a um hospital.
Alguns aguardam em cadeiras, diante da falta de macas. Muitos morrem durante a espera.
Deu em El País
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