Comportamento 10/08/2020 13:33
O tão falado “home office” não é bem assim
—Você trabalha de sol a sol. É mentira que possa administrar melhor o seu tempo.
—Você trabalha de sol a sol. É mentira que possa administrar melhor o seu tempo.
Mistura seu espaço de trabalho com seu espaço privado. Não desliga. Já me deparei com 20 emails às dez da noite. Nos fins de semana também [Ana, de 61 anos, funcionária pública].
Em meados de março, os edifícios de escritórios do munto todo ficaram vazios de pessoas e cheios de incertezas.
Sete de cada dez empresas espanholas enviaram todos ou parte de seus trabalhadores para casa, segundo uma pesquisa recente. Mais de três milhões de pessoas trabalharam remotamente durante o confinamento na Espanha. Quatro vezes mais do que a pequena fração de 4,8% de empregados que habitualmente realizam suas tarefas remotamente durante parte da semana.
No Brasil, segundo pesquisa feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 20,8 milhões de pessoas podem utilizar o ‘home office’, o que que corresponde a 22,7% dos postos de trabalho.
Quem tem mais possibilidades de trabalhar em casa são os profissionais da ciência e intelectuais (65%), seguidos de diretores e gerentes (61%), apoio administrativo (41%) e técnicos e profissionais de nível médio (30%).
A imersão no teletrabalho devido à crise sanitária da covid-19 foi, em grande parte, um mergulho arriscado. De um dia para outro, os empregados começaram a abrir o laptop na mesa da sala de jantar enquanto as crianças invadiam suas teleconferências pelo Zoom.
Em tempo recorde, os empresários tiveram de procurar computadores com o país fechado, adaptar plataformas seguras e organizar virtualmente tarefas até então presenciais, assinala Rosa Santos, diretora de Relações Trabalhistas da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE).
Quase cinco meses depois e com os surtos se multiplicando, a recomendação de priorizar o teletrabalho permanece.
Tivemos de nos adaptar subitamente aos novos costumes trabalhistas, afirma a especialista em Medicina do Trabalho Teófila Vicente-Herrero. “Nem todo mundo está preparado e tem a mesma velocidade”, acrescenta. A tensão de manter o nível de rendimento diante de exigências às quais não estamos habituados, assinala a também especialista em teletrabalho, causa “somatizações, com alterações digestivas, do ciclo do sono e ansiedade por essa má adaptação à nova situação de estresse”. Isso se agrava entre quem nunca trabalhou à distância.
“Havia desinformação, falta de formação e de tecnologia. Os horários foram quebrados. Em muitos casos, as jornadas são intermináveis, e isso gera uma alteração nos ciclos biológicos e nas relações familiares e sociais.”
As pessoas passaram a trabalhar mais.
Até duas horas diárias a mais na Europa e três nos Estados Unidos, segundo dados do NordVPN, uma fornecedora do cordão umbilical que conecta os computadores domésticos com os servidores das empresas. Um de cada quatro empregados tem de usar seu tempo livre para dar conta das tarefas, aponta uma pesquisa do Eurostat, o serviço de estatística da União Europeia.
E fazem isso do sofá ou da cadeira da cozinha, compartilhando espaços improvisados com companheiros e filhos. Trabalhando à custa do sono.
Deu em El País
Descrição Jornalista
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