Sem categoria 31/07/2014 09:29

Com a classe C endividada, A e B puxam o consumo

Por fatorrrh_6w8z3t

A varejista francesa de cosméticos Sephora decidiu, dois anos atrás, se instalar no Brasil. Na época, o varejo estava no auge de um movimento de transformação social que colocou a classe C no centro das atenções do mundo dos negócios.
A nova classe média brasileira, ávida por eletroeletrônicos, eletrodomésticos, computadores e até imóveis e automóveis, era quem puxava o crescimento das vendas, turbinado pela facilidade e fartura de crédito.
Diante desse dinamismo, a maior parte das empresas resolveu apostar nessa camada emergente, oferecendo produtos e serviços para atender o seu apetite aparentemente insaciável.
Surpreendentemente, no entanto, a estratégia anunciada pela Sephora, controlada pela gigante francesa do luxo LVMH, trafegava no sentido contrário. Seu foco eram os consumidores mais abastados, com recursos suficientes para comprar produtos de marcas como Dior, Guerlain, Givenchy e Yves Saint Laurent.
Nessa categoria encontram-se pessoas das classes A, cuja renda familiar está acima de R$ 13 mil por mês, e B, que ganham entre R$ 4 mil e R$ 11 mil mensais, segundo a empresa de pesquisas IPC Marketing, especializada em índices de potencial de consumo.
Elas não dependem apenas de empréstimos para consumir e, geralmente, pagam suas contas com cartões de crédito gold, platinum, black ou similares.
A opção preferencial da Sephora pelos abonados se mostrou acertada. Com crescimento de dois dígitos desde a estreia no País, a marca prepara-se para abrir sua 13ª loja neste ano. “Nosso consumidor sente muito menos a inflação, a alta dos juros e o desemprego”, afirma Flávia Bittencourt, diretora-geral da varejista no Brasil. “E quem passou a consumir produtos de boa qualidade, que é o que vendemos, dificilmente vai voltar atrás.”
O exemplo da varejista francesa não é único. Empresas dos mais diferentes ramos, como turismo, automóveis, bebidas, aviação e imobiliário, entre outros, que apostaram nas classes A e B nos últimos anos, atualmente colhem os frutos da estratégia. Uma série de indicadores mostra que o motor do crescimento do va­­rejo mudou.
Um estudo elaborado pela consultoria Nielsen revela que os consumidores no topo da pirâmide são responsáveis por 60,9% do crescimento das vendas nos supermercados. A participação da classe C nesse quesito é de 33,8%.
“A classe C não perdeu relevância, mas seu papel no crescimento mudou”, afirma Olegário Araújo, diretor da Nielsen. “Quem está impulsionando são as classes A e B.”
Neste ano, o consumo dos brasileiros deve atingir R$ 3,3 trilhões, de acordo com a IPC Marketing. Somente a classe B, que compreende 35% dos domicílios urbanos, deverá responder por mais da metade desse total (50,8%), ou R$ 1,5 trilhão.
Já a chamada classe emergente, formada por 46,9% dos lares brasileiros, cuja renda familiar varia de R$ 1.164 a R$ 4.076, será responsável por cerca de um quarto do consumo no País: R$ 790 bilhões.
Por sua vez, os 5,1% mais ricos devem gastar R$ 782,5 bilhões, o equivalente a 19,5% do total.
O trabalho da IPC também mostra que está acontecendo uma migração de classes, ao mesmo tempo que o vetor de crescimento muda. Do ano passado para cá, o número de domicílios da classe C caiu dois pontos porcentuais. Já os lares de classe B cresceram na mesma proporção.
Dois motivos explicam a mudança: o aumento dos juros, que dificulta o acesso ao crédito, e a alta da inflação. Já endividada, a classe C, no momento, se concentra em pagar suas dívidas, evitando aumentar seus gastos com o consumo.
Deu em IstoÉ Dinheiro

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista