Sem categoria 19/05/2013 06:57
Deu na Folha de São Paulo
Ele fez o governo passar noites em claro na votação da MP dos Portos, foi alvo de impropérios nas hostes governistas e, ao final, foi parcialmente atendido em uma manobra para aprovar o texto na Câmara dos Deputados.
Mas o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) rejeita a condição de nêmesis de Dilma Rousseff, em referência à deusa grega da vingança: “Não sou Geni. Não sou um gênio do mal”, diz, lembrando a prostituta apedrejada da música de Chico Buarque.
Em entrevista, o líder peemedebista na Câmara alerta: “Sou líder da bancada. Eles terão de conviver [comigo]. Ou será crise atrás de crise”.
Folha – O sr. foi derrotado?
Eduardo Cunha – Não. Só acho que a gente não tem que ficar carimbando o que eles mandam do palácio. Eles não estavam acostumados a esse tipo de combate. Quero poder ter o direito a discutir e não me sentir constrangido quando divergir do governo.
O sr. virou a “Geni” de Dilma?
Não sou Geni. Querem me transformar nisso para esconder falhas.
Por que falta um Antonio Palocci [ex-ministro da Casa Civil, citado por Cunha durante a crise] no governo federal?
Ele era um homem do Legislativo, com forte capacidade de interlocução, grande conhecimento técnico e com o poder que ele tinha.
Falta isso a Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e a Ideli Salvatti (Relações Institucionais)?
Talvez sejam pessoas certas na função errada. Hoje não há interlocução. Queremos participar das formulações. Fazer como o Lula fazia. Hoje, se for contra o projeto do governo, você é do mal e eles do bem. O governo está pouco acostumado ao diálogo.
Defende mudanças?
Quem sou eu para definir ministro! Mas até no PT não estão muito afinados. Falei com o líder do PT, José Guimarães: ou PT e PMDB se acertam ou isso vai ser todo dia um problema. Guimarães precisa ser mais líder do PT e menos líder do governo.
O líder do governo perdeu a autoridade?
Arlindo Chinaglia é extremamente eficiente, mas talvez esteja sem autoridade. Ele hoje líder do governo é muito diferente do Chinaglia líder do governo Lula.
O problema é a chefe?
Não. É o conjunto da obra.
Há uma guerra?
Virou uma questão pessoal contra mim. Não se pode tratar o líder do maior partido da base assim. Se discordar, viro inimigo? O governo tem um grave defeito: utiliza parte da mídia. Quando a mídia denuncia, o governo vem aqui pedir para evitar CPIs e diz que a imprensa faz perseguição política. Mas quando a mídia defende a tese do governo, aí ela é maravilhosa.
A mídia apoiou o governo?
Não, disse que o governo usou, digamos assim, o apoio natural que a mídia tem ao tema, que eu também apoio.
Mas o sr. é acusado pelo Planalto de procrastinar.
Não vou responder acusação a prédio.
Ideli Salvatti não é prédio.
A atuação desse ministério talvez seja uma das grandes falhas, mas não sei se ela teve delegação [para negociar]. A Ideli não participava das reuniões, ficava muda. Tem um ranço contra mim. Mas não vou deixar de ser líder. Se não quiserem conviver, será crise atrás de crise.
Ameaça?
Jamais trabalho no campo da ameaça. Se houvesse o mínimo de articulação política, a gente tinha resolvido a MP antes. E teve a atuação desse cidadão que prefiro não pronunciar o nome…
O [Anthony] Garotinho?
Fala baixo, é palavrão! Menino de recados da Ideli.
Vê chance de melhora na articulação daqui até a eleição?
É a história do sábio com o passarinho na mão. Perguntaram a ele se o pássaro estava morto ou vivo. Ele disse: depende de você. Em ano de eleição, a dificuldade será muito maior.
Quem é melhor no diálogo, Gleisi ou Ideli?
[Silêncio. Rosto vermelho].
Com quem dá para dialogar?
O ministro Eduardo Cardozo [Justiça] ajudou. Também o Beto Vasconcelos [número 2 da Casa Civil], que está saindo do governo, uma pena. Nelson Barbosa [número 2 da Fazenda] também saiu. Parece que trocaram uma Brastemp [Barbosa] por um Arno [ironia com o nome do secretário Arno Augustin].
O sr. disse ao “Valor” que o governo defendeu interesses de quatro grupos.
Não disse que o governo patrocinou. Disse que o projeto acabou beneficiando.
O sr. trabalhou pelo grupo Libra (operador portuário)?
Não defendi e não defendo interesse de grupo nenhum.
Algum operador portuário já financiou campanha sua?
Que eu saiba, não. Minha campanha é muito diluída no financiamento, mas sinceramente não sei. Já recebi com certeza doação da Odebrecht.
O governo está tratando o sr. como oposição?
Sim.
Mas tem cargos no governo.
Não tenho. Dizem que serei tratado a pão e água. Seria um avanço. Se achar um cargo meu pode demitir hoje.
O que acontecerá com os portos públicos com a nova lei?
Acho que a lei significará o fim do porto público.
No governo o chamam de gênio do mal.
O elogio de gênio é sempre muito agradável, mas não sou gênio, sou esforçado. Agora, do mal, com certeza eu não sou