Violência 10/08/2022 17:00

A jovem que expôs seu divórcio no TikTok em busca de apoio e acabou morta pelo ex-marido

Atenção: esta reportagem contém detalhes que podem ser considerados chocantes.

Após deixar para trás um casamento abusivo, Sania Khan contou que alguns membros da sua comunidade muçulmana no sul da Ásia fizeram com que ela se sentisse “fracassada na vida”. Mas ela encontrou apoio e conforto entre estranhos no TikTok — até que seu ex-marido voltou para assassiná-la.

Suas malas estavam prontas. E ela estava preparada para ser livre.

Em 21 de julho, Sania Khan, então com 29 anos, deixaria Chicago, no Estado americano de Illinois — e o trauma de um relacionamento que não deu certo — para começar um novo capítulo sozinha na sua cidade natal de Chattanooga, no Tennessee (EUA).

Mas, naquele dia, ela voltou para o Tennessee sem vida.caída perto da porta da frente do condomínio de Chicago onde ela vivia com seu ex-marido, Raheel Ahmad, de 36 anos. Ela tinha um ferimento por arma de fogo na parte de trás da cabeça e foi declarada morta no local.

Quando a polícia chegou, Ahmad voltou a arma para si mesmo e atirou, tirando sua própria vida.

Segundo os boletins de ocorrência fornecidos pela polícia ao jornal Chicago Sun-Times, o casal estava “passando por um divórcio” e Ahmad, que havia ido morar em outro Estado durante a separação, viajou cerca de 1.100 km de volta até sua antiga casa “para salvar o casamento”.

O terrível assassinato seguido de suicídio foi o trágico capítulo final da vida de Khan, uma jovem fotógrafa paquistanesa-americana que havia sido recentemente reconhecida pela plataforma TikTok como uma voz das mulheres que lutam contra o trauma do casamento e o estigma do divórcio na comunidade do sul da Ásia.

Sua morte abalou suas amigas e reverberou entre suas seguidoras online e outras mulheres do sul da Ásia, que afirmam que sentem a pressão de permanecer em relacionamentos que não são saudáveis para manter as aparências.

Ajudo as pessoas a se apaixonarem’

“Ela dizia que seu 29° aniversário seria o seu ano e um novo começo”, afirma BriAnna Williams, sua amiga da universidade. “Ela estava muito animada.”

Para suas amigas, Khan era toda alegria — autêntica, positiva e generosa até demais.

“Era alguém que daria a você a camisa que estava usando”, afirma Mehru Sheikh, com 31 anos, que chamava Khan de sua melhor amiga.

“Mesmo quando enfrentava momentos difíceis na vida, ela era a primeira a ligar e perguntar como você estava.”

No Instagram, no qual ela construiu sua primeira plataforma pública, Khan descrevia sua paixão pela fotografia no seu perfil: “ajudo as pessoas a se apaixonarem por si próprias e entre si em frente à câmera”.

Khan fotografava casamentos, recém-nascidos, chás de bebê e outros acontecimentos, muitas vezes para clientes grandes, mas também para muitos dos seus amigos.

Sania
Sania Khan adorava fotografar

“Era atrás da câmera que ela ganhava viva”, segundo Sheikh. “Ela tinha o dom de fazer as pessoas se sentirem confortáveis em frente à câmera para registrar alegria e emoções naturais.”

Paralelamente, ela buscava o mesmo tipo de alegria na sua própria vida pessoal. Depois de namorar Ahmad por cerca de cinco anos, Khan se casou em junho de 2021 e eles se mudaram para Chicago juntos.

“Eles tiveram um grande e fabuloso casamento paquistanês”, relembra uma amiga de infância. “Mas o casamento foi construído sobre uma base de mentiras e manipulação.”

As amigas de Khan afirmam que Ahmad tinha problemas de saúde mental há muito tempo. O casal passou a maior parte do namoro em um relacionamento à distância antes de se casar. As amigas afirmam que a distância provavelmente obscureceu o tamanho da incompatibilidade do casal.

Os problemas vieram à tona em dezembro, quando Khan disse a uma amiga que Ahmad teve uma crise de saúde mental e que ela se sentia insegura.

A BBC não conseguiu falar com a família de Ahmad. Parentes declararam, por meio das amigas de Khan, que não fariam comentários para esta reportagem.

Cerca de uma dezena de assassinatos seguidos por suicídio ocorrem nos Estados Unidos por semana. E cerca de dois terços deles envolvem parceiros íntimos, segundo o Centro de Política de Violência dos Estados Unidos.

Doenças mentais e problemas de relacionamento são frequentemente identificados entre os principais fatores de risco para as mulheres que enfrentam abuso dos seus parceiros. Especialistas em violência doméstica afirmam que as mulheres enfrentam mais risco de serem mortas por parceiros íntimos quando saem do relacionamento.

O episódio de dezembro convenceu Khan — que, até então, havia mantido em segredo os detalhes do seu relacionamento — a abrir-se sobre seu casamento infeliz, segundo suas amigas.

Deu em BBC/Yahoo Brasil

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista