Comércio 06/07/2018 05:32

Separação da Hyundai pode render US$ 10 bi ao grupo Caoa

O fim da parceria entre a sul-coreana Hyundai e o Grupo Caoa deve render indenização de US$ 10 bilhões à companhia brasileira.

O fim da parceria entre a sul-coreana Hyundai e o Grupo Caoa deve render indenização de US$ 10 bilhões à companhia brasileira.
A estimativa, feita a pedido do Jornal do Carro pela ADK Automotive, consultoria especializada no setor, leva em conta os lucros cessantes e compensações por investimentos feitos no País.
Fontes ligadas à Caoa dizem que a indenização pode ser ainda maior.
Um porta-voz da empresa limitou-se a dizer que “o Grupo Caoa está tomando todos os procedimentos cabíveis em relação a esse caso.” A Hyundai informou em nota que “conforme políticas globais da empresa, a Hyundai Motor Brasil não comenta processos jurídicos em andamento.”
A queda de braço entre a Caoa e a Hyundai poderá ser decidida por um tribunal arbitral em Frankfurt, na Alemanha. O motivo da disputa é o rompimento, pela Hyundai Motors, do contrato com a Caoa.
Ele garante o direito de importar com exclusividade e produzir veículos da Hyundai no Brasil por 20 anos. A cláusula 2.02 do contrato previa renovação automática ao fim dos dez primeiros anos.
O prazo venceu no dia 30 de abril. Em 12 de abril, contudo, a Hyundai enviou carta à Caoa cancelando o acordo de forma unilateral.
Segundo uma fonte da Hyundai, não se trata de fim da parceria, mas de “uma adequação do contrato”. Porém, ela confirmou que o contrato previa renovação automática.
O advogado Sérgio Bermudes, que representa a Caoa, diz que a companhia sul-coreana não apresentou nenhuma justificativa concreta para romper o contrato.
“A Hyundai propôs um novo prazo de validade para o contrato, de dois anos”, afirma. “A empresa percebeu o potencial do mercado brasileiro e o trabalho que a Caoa fez aqui. E agora quer vender e importar veículos por conta própria.”
No dia 27 de abril, Bermudes entrou com uma liminar na 2.ª Vara Empresarial de Conflitos e Arbitragem de São Paulo. Que foi acatada pela Justiça e garantiu a manutenção de todas as cláusulas do contrato original. Em seguida, a Caoa solicitou a arbitragem da disputa a um tribunal de Frankfurt, conforme previsto no documento firmado com a Hyundai para casos de litígio.
Para o tribunal arbitral a Caoa indicou Gustavo Tepedino, ex-diretor da Faculdade de Direito da UERJ e membro do Grupo Latino-americano de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI) e do Comitê Brasileiro da CCI.
A Hyundai indicou o inglês John Beechey, ex-presidente da CCI e um dos árbitros mais famosos do mundo.
De acordo com Bermudes, o prazo de 90 dias para que as duas partes cheguem a um acordo se encerra em meados de agosto. “Se isso não ocorrer, o caso voltará à Justiça brasileira”, explica o advogado. Ele diz que até lá os termos do contrato continuam valendo.
Além de ter exclusividade no Brasil para importar veículos da Hyundai feitos na Coreia do Sul, como o utilitário-esportivo Santa Fe e o sedã Elantra, a Caoa produz os utilitários-esportivos ix35 e Tucson e o caminhão HR em sua fábrica de Anápolis (GO).
A Hyundai Motor Brasil (HMB), por sua vez, faz a linha HB20 (hatch e sedã) e o utilitário-esportivo compacto Creta em Piracicaba, no interior de São Paulo.
Diretor da ADK, Paulo Garbossa afirma que, se não houver acordo e a Caoa vencer a Hyundai na Justiça, o cálculo de US$ 10 bilhões é preliminar.
“Um novo cálculo deverá levar em conta as receitas que a Caoa deixará de ter nos próximos dez anos, período em que o mercado brasileiro de veículos crescerá muito, além dos investimentos feitos na fábrica de Goiás, no desenvolvimento e implantação de uma rede de concessionárias em todo o País, na construção de centros de distribuição e em estoques de peças, entre outros.”
Segundo o especialista, também será preciso valorar a construção da imagem da Hyundai e a consolidação da marca no País.
“A Caoa consegui transformar uma marca desconhecida em sonho de consumo de muitos brasileiros. Os produtos da empresa têm o mesmo status de carros da BMW, por exemplo. Quem não se lembra daquele comercial de TV que dizia ‘O melhor do mundo’?”
Deu no Estadão

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista